No Brasil, 1 em cada 7 homens temem o exame de toque. Especialista reforça que atraso no diagnóstico do câncer de próstata muitas vezes decorre de machismo e preconceito
O câncer de próstata é o segundo tipo mais comum de câncer em homens, atrás apenas dos tumores de pele não melanoma. Mesmo assim, o exame de toque retal, feito para avaliar a saúde da próstata, ainda desperta medo em 1 a cada 7 homens, segundo dados da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), um brasileiro morre vítima de câncer de próstata a cada 38 minutos. A entidade estima 71.730 novos casos deste tipo de câncer por ano para o triênio 2023-2025 no país.
De acordo com o médico endocrinologista e pesquisador Flavio Cadegiani, o atraso no diagnóstico da doença decorre de fatores que vão além da assistência insuficiente à saúde. “Questões estruturais, como o machismo profundamente enraizado, são um verdadeiro obstáculo em um país onde o exame clínico como o toque retal é de suma importância por conta da dificuldade de se realizar exames de sangue e de imagem”, diz.
Problemas além do câncer de próstata
O médico comenta que o mal causado por preconceito e falta de informação vai além do assunto tratado pela campanha do Novembro Azul. “Se mesmo diante dessa campanha ainda temos tantos diagnósticos tardios de câncer de próstata, imagina o quanto falhamos para acompanhar problemas masculinos mais recentes”, afirma.
“O Brasil é campeão de um dos cânceres mais raros do mundo, o de pênis. Só em 2022, foram quase 2 mil casos, uma incidência 50% maior que entre americanos. Isso se dá muito por falta de informação, preconceito e até falta de intimidade com o próprio órgão urinário e sexual”, exemplifica Cadegiani.
O especialista enfatiza que a precariedade não se restringe ao campo dos órgãos sexuais masculinos (próstata, testículos, pênis). “A saúde mental do homem é mais um tabu e, com isso, negligenciada em mais diversos níveis. Homens sofrem de forma muito mais silenciosa de depressão, ansiedade, insônia e outros problemas mentais por medo de passar uma impressão de fragilidade”, destaca.
Ainda conforme Flavio Cadegiani, “minorias como homens que fazem sexo com homens, não-cis e trans, homens não brancos e homens com obesidade são ainda menos acolhidos, investigados e tratados”.
“São, portanto, inúmeros os problemas relacionados à saúde do homem causados pelo mal do machismo estrutural, que nesse caso se volta contra os próprios homens nas múltiplas negligências de saúde.”
Políticas Públicas
Para o médico, é preciso que o Estado atue de forma enérgica na implementação da Saúde Integral do Homem, já a partir da adolescência, observando a barreira adicional de adesão dos homens aos programas de saúde.
“O momento é de unir a população para combater e reduzir várias dessas doenças, permitindo que homens vivam suas vidas com toda a liberdade e qualidade que a medicina, quando bem praticada, permite”, conclui Cadegiani.
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