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Carros nacionais, perrengues e recorde: o que foi a Caravana da Integração Nacional

Na “pré-inauguração” de Brasília, visitantes chegam dos quatro cantos do país para valorizar a indústria automobilística brasileira; símbolo foi a pitoresca Romi-Isetta que conduzia JK

Perdida numa esplanada monumental onde edifícios ministeriais se aliam ao painel de blocos do artista plástico Athos Bulcão no Teatro Nacional, à Catedral e ao Museu Nacional de Oscar Niemeyer para roubar olhares e atenções, ela está lá. Simples, de pouco mais de dois metros de altura, feita em metal com os pontos cardeais identificando o Norte, o Sul, o Leste e o Oeste de um cruzeiro chamado Brasil.

O símbolo – uma cruz no canteiro central entre as vias N1 e S1 – marca um recorde nacional e um ato histórico na construção da nova capital: a Caravana da Integração Nacional.

Cruzar o Brasil pelas estradas de hoje em dia já não é uma tarefa fácil. Pense, então, como foi fazer isso em 1960. Dois meses antes da inauguração de Brasília (21 de abril de 1960), uma caravana partindo dos quatro cantos do país rumo a capital foi idealizada para fazer a ligação transbasiliana por meio de um cruzeiro de estradas criado pelo então Presidente da República, Juscelino Kubitscheck.

O feito histórico marcou época não só pelo ineditismo de uma ação tão complexa e grandiosa, mas por usar uma frota com apenas veículos nacionais na estrada. Foram 137 no total.

Inaugurar Brasília era a meta síntese da gestão de JK, porém dois fatores foram emblemáticos e relevantes para a modernização do Brasil: a expansão da malha rodoviária e a implantação da indústria automobilística. Diante disso, surgiu na cabeça do ajudante de ordens do presidente, José Edson Perpétuo, a ideia de incrementar a inauguração da cidade unindo esses elementos, demonstrando, assim, o avanço no plano de metas do patrão.

Havia de tudo que fabricavam na época: Rural e Jeep Willys (este, inclusive, o primeiro carro a percorrer as obras da cidade com Lúcio Costa e Israel Pinheiro), DKW, Kombi, Fusca, Simca Chambord, Toyota Land Cruiser, caminhões Mercedes, Chevrolet, International e até ônibus Caio com chassi FNM. Os paulistas trouxeram os veículos mais pitorescos: nada menos que 25 Romi-Isetta, carrinhos pequenos em tamanho e potência que fizeram um enorme sucesso.

Formação
Os participantes da Caravana da Integração Nacional formaram quatro colunas, uma de cada ponto cardeal do país. A turma do Sul percorreu 2,3 mil quilômetros saindo de Porto Alegre. A do Oeste partiu de Cuiabá e rodou 1,1 mil quilômetros até Brasília.

A coluna Leste teve largada oficial no Rio de Janeiro, sob o olhar de Juscelino na porta do Palácio do Catete, então sede do governo federal, para um percurso de 1,2 mil quilômetros; Foram três dias de asfalto, mas a maioria dos integrantes já estava rodando desde São Paulo. “A bandeira saía do Rio de Janeiro em automóveis brasileiros, com pneumáticos brasileiros, petróleo brasileiro para trefegar por estradas asfaltadas com asfalto brasileiro”, comemorou JK na época.

Junto a do Sul, a caravana do Norte foi a que mais rodou –, e, disparado, foi a que enfrentou mais problemas: percorreu os 2,2 mil quilômetros de uma Belém-Brasília ainda em construção. Foi uma sequência de atoleiros e contratempos numa via sem a menor infraestrutura durante dez dias de chuvas ininterruptas.

As dificuldades enfrentadas eram tantas – em caminhos muitas vezes abertos às pressas – que por onde passaram com seus caminhões, jipes e ônibus, os expedicionários eram recebidos como heróis. Carros de passeio não fizeram parte do comboio da Coluna Norte que, diante de tantas dificuldades, recebeu o título de “Operação Tartaruga.”

Chuva e festa
As quatro caravanas encontraram-se no dia 2 de fevereiro de 1960 e, “para variar”, estava chovendo. Já na chegada a Brasília, JK desceu de helicóptero e recebeu dos diretores da Mercedes-Benz, na coluna Leste, a bandeira do Brasil.

A partir dali, o ex-presidente passou a liderar o cortejo em cima de uma Romi-Isetta conversível. O grupo de automóveis brasileiros e 287 expedicionários desfilou pelas ruas da Brasília ainda não inaugurada.

Uma viagem épica que, entre tantos feitos desde a criação ao longo desses 59 anos, merece ser relembrada – e ter seu marco notado por todos que passarem pela esplanada, entre a Catedral e o bloco L do Ministério da Educação. HÉDIO FERREIRA JÚNIOR, DA AGÊNCIA BRASÍLIA

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